Covid-19: Ministério da Saúde não divulgará cronograma de vacinação
por: Igor Tarcízio
Depois de alterar ao menos cinco vezes o cronograma de entrega de vacinas para Covid-19, o Ministério da Saúde decidiu que não irá mais divulgar a previsão de doses que espera receber a cada mês. O ministério argumenta que esses dados devem ser coletados, agora, diretamente com os fabricantes, e que não vai mais torná-los públicos. A mudança foi confirmada ao jornal Estadão pela própria pasta.
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O governo está sob pressão para ampliar o ritmo de vacinação. Por falta de doses, algumas cidades interromperam a campanha de imunização. A prefeitura de Belo Horizonte informou na quinta-feira (8) que aguarda novos lotes para voltar a aplicar vacinas. No começo da semana, o Governo do Distrito Federal fez o mesmo.
Os primeiros cronogramas de entrega de vacinas foram divulgados em fevereiro, quando o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello tentava esfriar críticas sobre a demora do governo federal em apresentar estas projeções. As versões iniciais desse documento já se mostravam inviáveis.
Pela previsão de fevereiro, o Brasil encerraria o mês de março com 68 milhões de imunizantes distribuídos. Segundo dados da última quinta-feira (8), foram entregues 45,2 milhões de doses.
Reação de socialistas
Nas redes sociais, socialistas reagiram a iniciativa do ministério de "esconder? os cronogramas de imunização. O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que a ação é uma "afronta à transparência? e que o governo de Jair Bolsonaro "parece empenhado em continuar sendo um dos maiores obstáculos no enfretamento à Covid-19?.
"Transparência não é o forte de quem prega autoritarismo?, escreveu a deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA).
A ex-candidata à vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT), Manuela D?Ávila (PCdoB-RS), declarou que "acesso à informação é direito e o governo deve prestar contas e servir?.
Para o ex-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), o Brasil está "sem rumo e sem porta de saída para a pandemia?.
Desdém com a saúde dos brasileiros
O governo chegou a desdenhar da demora na compra das vacinas. "Para que essa ansiedade??, disse o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em dezembro de 2020.
No mês seguinte, o mesmo general declarou que o governo iria receber uma "avalanche? de propostas de vacinas e que o Brasil iria ultrapassar a campanha dos Estados Unidos já em fevereiro, o que até agora não ocorreu. Apenas em dezembro um crédito de R$ 20 bilhões foi aberto para contratação das doses, quando o governo já havia rejeitado ofertas para compra da Pfizer e do Instituto Butantan.
Já o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou meses, em 2020, rejeitando propostas de compra da Coronavac, imunizante que ele apelidou de "vachina?, por causa da origem chinesa, e "vacina de João Doria?, em referência ao governador paulista, seu inimigo político. Bolsonaro afirmou ainda que não compraria a vacina mesmo após o registro do produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele atribuiu a decisão a não ter "segurança? sobre a vacina por causa da origem chinesa.
Em março, o Ministério da Saúde procurou justamente a Embaixada da China para "pedir socorro?. A pasta apontou risco de a campanha de imunização parar no país "por falta de doses, dada a escassez da oferta internacional?, e pediu a compra de 30 milhões de vacinas da Sinopharm.
Mudança de discurso
Pressionado pela queda de popularidade, o mandatário mudou o discurso e passou a defender a vacina, além de negar que um dia rejeitou os imunizantes. Em 24 de março, Bolsonaro compartilhou um cronograma de entregas, que não se cumpriu. A tabela mostra cerca de 560 milhões de doses contratadas, mas já previa importação da Covaxin, fabricadas na Índia, já em março. A Anvisa negou a entrada do imunizante no Brasil.
Os principais acordos do Brasil são com Butantan e Fiocruz, que entregam a Coronavac e vacina de Oxford/AstraZeneca. A produção desses laboratórios depende principalmente da entrega de insumos ao país.
O Butantan afirma que concluirá a meta de entregar ao governo federal 46 milhões de vacinas até o fim deste mês, somando o volume já distribuído (38,2 milhões). Já a Fundação Oswald Cruz (Fiocruz) espera enviar 26,5 milhões de vacinas até o começo de maio, também considerando as 8,1 milhões de unidades já fabricadas.
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